Converse sobre a vida com uma mãe que trabalha fora. É praticamente certo que uma de suas principais fontes de angústia seja deixar o filho em casa quando sai para o escritório. Tente o mesmo com uma mulher que abriu mão da carreira para cuidar das crianças. Decerto ela vai lamentar a monotonia de seu cotidiano, a ausência de uma vida "só sua". Parece não haver escolha plenamente satisfatória. Em qualquer um dos casos, a mulher convive com uma culpa aparentemente incontornável que acompanha a maternidade. Esse dilema atinge mulheres bem-sucedidas e que podem contar com o apoio de babá, enfermeira e empregados que lhes garantam conforto e pouca dor de cabeça. Se para elas a sensação beira o incômodo, imagine o que significa para uma mulher de classe média que, em geral, conta apenas com o apoio dos parentes quando precisa de ajuda para cuidar dos filhos.
É muito difícil para a mulher conseguir administrar os papéis que são exigidos dela: provedora, junto com o homem, na parte econômica, alicerce emocional da família e profissional bem-sucedida. "Elas sentem que vão fracassar em algum desses compromissos", afirma a terapeuta de família Gladis Brum, autora do livro Pais, Filhos & Cia. Ilimitada (Record). "E o maior temor é fracassar como mãe", diz a terapeuta. No tempo de nossas avós, a mãe exemplar era a que criava os filhos homens para o trabalho, longe de doenças e vícios. As filhas eram treinadas para repetir esse papel. Hoje, ser "boa mãe"é tarefa mais exaustiva. Ela precisa ser professora, psicóloga, enfermeira, cozinheira, motorista, conselheira e ainda trabalhar fora.
Assumir a responsabilidade irrestrita pelos filhos é uma questão indiscutível para a maioria das mulheres. Nas últimas décadas, elas obtiveram conquistas notáveis no campo profissional, como a ascensão irreversível no mercado de trabalho. No entanto, no âmbito individual, a maioria ainda se mostra confusa para lidar com a multiplicidade de papéis. É preciso ter em mente que, se não houver uma colaboração masculina - do pai, do marido -, o dilema jamais será solucionado.
Estudos americanos informam que a convivência entre mãe e filho resume-se a duas horas diárias. No passado, o período de convívio era cinco vezes maior. Dizer que os filhos de mulheres que trabalham fora são mais ou menos bem educados é discussão das mais tolas. Há centenas de pesquisas sobre o assunto. As mais sérias desqualificam qualquer relação entre a atividade da mãe e o equilíbrio emocional dos filhos. Uma criança pode ser muito bem criada pela mãe (ou pelo pai) que trabalha em casa, ou simplesmente não trabalha. E pode ser igualmente bem criada por pais workaholic. Tudo depende da qualidade do tempo que o casal dedica aos filhos.
Fonte: http://veja.abril.com.br/